Saudações, mortais desse Estranho Mundo.
Era uma vez dois jovens amigos fãs de rock.
Os dois enxergavam no gênero uma forma quase-religiosa de libertação, algo que realmente unia o corpo e o espírito num ritual primitivo-futurista em que se cultuava a atitude e a criatividade. Aos poucos eles foram crescendo. Um voltou-se para uma análise mais profunda sobre o assunto, buscando respostas para perguntas do tipo "como essa banda consegue ser assim?", "como aquele músico consegue fazer aquele solo", "como aquele vocalista consegue soar assim?". O outro preferiu ignorar estes detalhes e dedicou-se mais a perguntas como "o que quer dizer esse gênero?", "por que essa banda toca assim e não assado?", "por que duas bandas tão distintas são tão boas?". O primeiro jovem passou a investir seu dinheiro em revistas, livros e dvds especializados sobre música, aulas com professores particulares, períodos em conservatórios, faculdade de música, passou a frequentar workshops, lojas de instrumento, estúdios, backstage de shows e shows superproduzidos. Adaptou sua casa às suas necessidades musicais, comprou equipamentos caros, estudou-os e dominou-os. Até que montou sua própria banda com todo o know-how adquirido ao longo do tempo e passou a ganhar dinheiro. O outro optou por comprar cds dos mais variados estilos de rock, bandas desconhecidas, álbuns obscuros, ignorados, negligenciados e que os vendedores escondiam ou só traziam sob encomenda a um custo altíssimo. Mesmo sem nunca ter frequentado sequer a iniciação musical decidiu montar sua banda baseada em tudo o que ia descobrindo pelo caminho, numa espécie de decupagem-musical. Passou a ensaiar em casa e a perambular pelos ensaios de outras pequenas bandas locais, sempre atento para absorver qualquer coisa que pudesse acrescentar ao seu modo próprio de tocar. Bancava, junto com duas ou três bandas, os eventos em que se apresentava e nunca ganhou dinheiro. Hoje, o primeiro amigo está careca e barrigudo mas tem uma sólida carreira como técnico de guitarra de estúdio. Mora e trabalha nos Estados Unidos e consegue tempo pra passar as férias no Brasil visitando amigos do passado. O outro amigo está assistindo aos seus cabelos se tornarem grisalhos, virou funcionário-público concursado, faz uns "bicos" em Comunicação, nunca conseguiu sair de sua garagem com suas bandas e passa horas convertendo seus cds para formatos digitais e compartilhando coisas estranhas num ESTRANHO BLOG. Os dois continuam amigos, estão ficando surdos e nunca conseguiram entender como uma mesma paixão (o Rock) pôde levar duas pessoas tão parecidas à realidades tão diferentes!
Essa postagem de hoje é uma homenagem ao amigo Casares.
Provavelmente os fãs mais obtusos do Queen vão achar uma porcaria esse tributo. Até mesmo porque, mais do que reverência, "Dynamite With A Laserbeam: Queen As Heard Through The Meat Grinder Of Three One G" abriu espaço para que bandas de Noise como Blood Brothers, Get Hustle, Asterisk*, Das Oath, Gogogoairheart, Upsilon Acrux, Sinking Body, Glass Candy, The Locust, Weasel Walter, The Spacewürm, Fast Forward, The Convocation of..., Bastard Noise, Tourettes Lautrec e Melt-Banana destruíssem e reconstruíssem a seu modo clássicos como "We Will Rock You" (Melt Banana), "Killer Queen", "Under Pressure" (Blood Brothers), "Bohemian Rhapsody", "Flash's Theme" (The Locust) e "We Are the Champions" (Das Oath), entre outros. As músicas estão praticamente irreconhecíveis e vão do gutural ao white-noise, flertando com eletrônico e o grind/hardcore.
Mais uma humilde tentativa de mostrar como o Rock pode levar à realidades tão diferentes e tão boas.
Mais informações e amostras aqui.
"Almas atormentadas, tremei!"
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